Rodrigo Gurgel e o dragão da narratofobia
Narratofobia é o medo de contar uma história.
Quem diagnosticou esse transtorno psico-social foi o crítico literário Rodrigo Gurgel, no artigo Mazelas da narratofobia (publicado no jornal Rascunho de 2009).
Eu não ouso pretender substituir com minhas palavras a explicação de Gurgel.
A narratofobia assumiu para mim uma importância tão grande, tão basilar, que tão somente espero explicar nesta postagem como eu entendo a narratofobia.
Meu entendimento da narratofobia é "operacional", portanto incompleto, restrito e superficial em comparação com o original de Gurgel. É com imensa modéstia que me sirvo do termo.
A recusa de narrar
A narratofobia é o medo, a paúra, de narrar, de contar uma história. Esse medo tem distintas origens, de costume pertinentes com a incompreensão de que um escritor escreve um livro para contar uma história a um leitor que deseja conhecer essa história.
As consequências da narratofobia
Permito-me destacar trechos do artigo do Gurgel. A perda do contexto dos destaques empobrece o conceito de narratofobia, mas busco somente condensar esse meu entendimento operacional do conceito.
A narratofobia resulta em (palavras do Gurgel) "obras sem enredo e sem personagens, ou narrativas nas quais enredo, personagens, fluxo de tempo, configuração do espaço etc., amontoam-se num verdadeiro caos".
Os escritores, desprovidos de história que contar, (palavras do Gurgel) "se concentram em elaborar a linguagem (...) presos à falsa necessidade de criar uma nova vanguarda a cada amanhecer".
Diante dessas obras, o leitor se encontra (palavras do Gurgel) "abandonado diante da página impressa, condenado ao deserto no qual a imaginação, por mais que se esforce, não consegue dar conta de construir o que seria tarefa do escritor."
Essa literatura afasta os leitores, que buscam em romances importados ou espiritualistas as histórias que seus patrícios se recusam a lhes entregar.
A tarefa do autor
Dos trechos que reproduzi acima, um deles merece especial atenção:
Diante dessas obras, o leitor se encontra (palavras do Gurgel) "abandonado diante da página impressa, condenado ao deserto no qual a imaginação, por mais que se esforce, não consegue dar conta de construir o que seria tarefa do escritor."
Em circunstâncias assim, explica Gurgel, o escritor rouba do leitor a chance deste reconstruir a história em sua imaginação.
A graça de escrever não é a graça de ler. Quando o leitor recebe, em vez de um livro pronto com uma história acabada, um rascunho de um livro com uma história esboçada, cabe ao leitor se esforçar para construir ele próprio a história, seus personagens, o enredo, o cenário. Não sendo o leitor um escritor, ele fracassa, e, com razão, a frustração o conduz às narrativas frágeis dos best-sellers estrangeiros e dos espiritualistas nacionais. Ao menos neles ele encontra um livro pronto e uma história acabada.
Como se livrar da narratofobia
Se você é portador de narratofobia, ou se você se encontra sob ameaça de contrair esse distúrbio, um dos remédios é entender o que é uma narrativa e aprender a identificar uma narrativa nas obras dos outros; com o tempo, você conseguirá perceber suas próprias narrativas naqueles seus rascunhos de livros.
Há infinitos caminhos para aprender o que é uma narrativa e como identificar uma narrativa nas obras que lhe caem nas mãos.
Eu tenho uma maneira "operacional" de compreender a narrativa, então uso uma estratégia baseada em ferramentas de composição de narrativas.
Procure se informar sobre a oficina de composição narrativa ou fale comigo por e-mail.